12/06/2009

A ARTE DE CONVERSAR

Martha Medeiros disponibilizou o texto (acima) de Rubem Alves, que rendeu a crônica A Arte de conversar a partir da sentença:

"As relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar".

A gente sabe que o que mais se valoriza numa relação, hoje, é o sexo. De 1 a 10, eu diria que a importância do sexo numa relação é 10, realmente. Porque se não houver a liga, a química, vira amizade. Porém, qual a relação que não é composta de amizade? De 1 a 10, eu diria que a importância da amizade numa relação é 11. Não estou falando sobre namoros circunstanciais, sem compromisso. Estou falando de relação pra valer, com intenção de morar sob o mesmo teto, de construir uma vida em comum. Como é que se faz isso com quem não se tem assunto, com quem o papo não progride, com quem não contribui com nenhum pensamento novo, com quem não rebate suas bolas?

Quando a gente encontra uma pessoa com quem a conversa flui, parece que deixamos de ser estrangeiros no nosso próprio planeta. Conversa boa é um aconchego, um conforto, é como chegar em casa depois de um dia cansativo. Eu acabei de ler um livro muito bacana, A elegância do ouriço, da francesa Muriel Barbery, e de certa forma ela faz um "elogio à conversa", porque as duas narradoras do livro, por mais que habitem mundos distintos, se fundem quando trocam idéias, passam à categoria de "irmãs", mesmo uma sendo uma zeladora de 54 anos e a outra uma menininha rica de 12. É mágico o que a afinidade intelectual e emocional pode fazer por duas pessoas. E quando isso se dá entre um homem e uma mulher em vias de se apaixonar, aí é o nirvana, o éden, o paraíso na terra. Sexo bom e conversa boa: a fórmula dos amores indestrutíveis.


Martha Medeiros


BATE PAPO

A escritora e jornalista gaúcha tem um poder de síntese invejável, e uma clareza que auxilia a prender a atenção no ponto essencial, sem divagações que impeçam a gente de concluir alguma coisa do que lê, porque provoca reflexão, às vezes, uma revolução interna. E agora que já fiz minha tietagem – ela tem um jeito de falar pela gente, não tem?? – vamos semear mais algumas questões na tentativa de consolidar a idéia de que este espaço é nosso e permite um “bate papo” sobre as temáticas trazidas por mim, ou daquelas sugeridas por vocês.

Em uma “roda de conversa” noite dessas, algumas mulheres – casadas, namorando, solteiras ou sozinhas – suscitaram a importância para uma relação, de que o casal tenha interesses em setores da vida do outro e afinidade intelectual, pois “mais tarde” é o que farão com freqüência: trocar idéias, e essa expressão por si só define o raciocínio do grupo, uma vez que o diálogo é a expressão verbal da formulação das idéias que ocorrem na mente, e discutir o que pensa, o que sente e o que entende pelos mais diversos assuntos assegura a proximidade do casal, o estreitamento da amizade que sempre serviu de base para a construção e manutenção desse relacionamento. Claro que o amor tem que fazer parte desse cenário, sem ele o relacionamento não sobrevive, mas nós temos amigos que rendem debates estimulantes, mas necessariamente não precisamos “morrer de amores por eles”; logo, o amor nunca é excluído da relação como o cerne fundamental, o que está em pauta aqui é a preservação dessa relação amorosa através também da conversa, infinitas vezes servindo de ação mediadora para a resolução dos conflitos – talvez a comunicação seja o principal elemento das muitas relações afetivas que construímos, tanto podendo ser positivo como negativo, pois quando existe de forma clara, pontual, explicita e de boa vontade, viabiliza a correção de aspectos que incomodam o outro, e, em caso contrario, quando há disfunção na comunicação entre o casal, dificulta a resolução dos problemas, criando um abismo entre eles no que diga respeito a tentativas de mudanças necessárias para o ajuste da relação. Mais do que isso, expressamos sentimentos e pensamentos através da postura, da expressão facial, dos gestos – tensões corporais, rigidez muscular, silêncios prolongados, ausência de sorrisos e demonstrações afetivas que são costumeiras naquela pessoa – como abraços, pequenas delicadezas, cuidados e maneiras individuais de demonstrar afeto. Muitos diálogos surgem da percepção de uma das partes do casal – quando não de ambos – da necessidade de alterar essas situações que geram mais conflitos, nada acrescentam de positivo e afastam o casal.

Mas voltando para o tema original, fica o convite para algumas reflexões – como está a comunicação entre nós? Sobre quais assuntos nunca conversamos e poderíamos conversar? Do ponto de vista “comunicação”, agimos de que maneira nas nossas relações familiares e com os amigos? Expresso meus pensamentos sem censura ou não falo o que penso para evitar polêmica? Desde o início da nossa relação, construímos a prática saudável da conversa? E se não, o que dá pra fazer que mude isso? E por fim: o que posso fazer, individualmente, para trazer para dentro da relação, o diálogo franco, aberto - a conversa gostosa, amigável?

Um comentário:

  1. As pessoas andam se comunicando mal consigo mesmas que dirá com ou outros heim?!
    Amei seus posts
    Bjos

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