Conta a história que um casal tomava café da manhã no dia de suas bodas de prata. A mulher passou a manteiga na casca do pão e o entregou para o marido, ficando com o miolo.Ela pensou: "Sempre quis comer a melhor parte do pão, mas amo demais o meu marido e, por 25 anos, sempre lhe dei o miolo. Mas hoje quis satisfazer meu desejo. Acho justo que eu coma o miolo pelo menos uma vez na vida". Para sua surpresa, o rosto do marido abriu-se num sorriso sem fim e ele lhe disse:- Muito obrigado por este presente, meu amor. Durante 25 anos, sempre desejei comer a casca do pão, mas como você sempre gostou tanto dela, jamais ousei pedir!
Autor desconhecido
BATE PAPO
Moral da história? Você precisa dizer claramente o que deseja, não espere que o outro adivinhe. A boa comunicação evita que a gente desenvolva hábitos (se comporte) pensando que está fazendo o melhor para o outro. O outro pode estar esperando outra coisa de você.
No entanto, como na historinha desse casal, tem coisas que passam a fazer parte de nossas vidas sem que a gente se dê conta de como começou. Nesse caso, nenhum dos dois falou do que mais gostava, deixando que cada um traduzisse sozinho um desejo não expresso. Na vida isso acontece mais do que gostaríamos de admitir, mas reservamos a defesa da crítica, do rótulo, da cobrança e da mágoa para apontar o comportamento que não gostamos no outro, nos eximindo da parcela que nos cabe de responsabilidade. As palavras têm amplo poder, e se proferidas inadequadamente, mais atrapalham do que ajudam, mas também existem para comunicar ao outro, que não tem a obrigação de adivinhar nossos sentimentos, desejos, pensamentos. O ideal é desenvolver um nível de entendimento que permite que as partes se manifestem, se coloquem, se expliquem. Sem represálias, com boa vontade, desejando um consenso, buscando o entendimento. Isso é atitude que mostra maturidade, uma clara opção pelas soluções.
Optar é renunciar. Entregar-se, por exemplo, a um amor é abandonar outros. E, do que se renuncia e abandona, pode provir, depois arrependimento.
Afastar-se de um amor, ainda que, opção feita por lúcidas razões, pode gerar, adiante, a frustração pelo que se deixou de viver.
Os casos de amor vivem rondados por frustração ou arrependimento. Não o amor, que é íntegro, irrefutável, cristalino e indubitável: mas os amantes seus portadores. Quase sempre o tamanho do amor é maior que o dos amantes.
O que cerca as pessoas que se amam é sempre uma teia de limitações que o leva à disjuntiva: frustração ou arrependimento. Ou quem ama se entrega ao sentimento e se atira nos braços do outro para, depois, se arrepender do que abandonou para entregar-se ao amor, ou se afasta, cheio de lucidez, para, adiante, sentir frustração pelo que deixou de viver.
Estes estão na categoria assim definida de modo cruel mas lúcido por Goethe: "no amor, ganha quem foge”...Ou como disse o grande Orizon Carneiro Muniz: "no amor, é mais forte quem cede".
Na juventude tudo isso fica confuso porque esta é uma etapa da vida envolta em uma névoa amorosa que a torna radical na busca da felicidade.
O jovem ainda não se defrontou com as terríveis e dilacerantes divisões internas de que é feita a tarefa de viver e amar, aceitando as próprias limitações, confusões, os caminhos paralelos e contraditórios das escolhas, dentro de um todo que, para se harmonizar, precisa viver as divisões, os sofrimentos e os açoites das mentiras e enganos que conduzem as nossas verdades mais profundas.
Séculos de repressão do corpo e de identificação do prazer com o pecado ou o proibido fizeram uma espécie de cárie na alma.
É um buraco, um vazio, uma impossibilidade viver o que se quer, uma certeza antecipada de que o amor verdadeiro gera ou arrependimento ou frustração.
Viver implica, pois, aceitar essa dolorosa e desafiante tarefa: a de enfrentar o amor como a maior das maravilhas e que se nos apresenta sob a forma de enigma.
Tudo o que se move dentro do amor está carregado de enigmas. E com o enigma dá-se o seguinte: enfrentá-lo não é resolvê-lo. Mas quando não se o enfrenta, ele (enigma) nos devora.
Enfrentar o enigma mesmo sem o deslindar, é aquecer e encantar a vida, é aprender a viver; é amadurecer. Exige trabalho interior penoso, grandeza, equilíbrio e auto-conhecimento.
O contrário não é viver: é durar.
Arthur da Távola
BATE PAPO
A razão carrega em si a lucidez, e a mente lúcida é analítica, costuma ponderar e avaliar as questões primordiais da vida com a urgência de um náufrago. Porém, permanece andando nas cercanias da lógica, que não combina com o amor. E se pensar não impede ninguém de agir, nas questões de amor, pensar muito, dar espaço para o mental em detrimento das emoções, pode ser o suicídio da relação.
O autor inicia seu texto falando da possibilidade da escolha, prerrogativa do livre arbítrio, meio pelo qual definimos o rumo de nossas vidas, mas não podemos deixar de lembrar que nossas escolhas comprometem largamente os sonhos, o futuro e as pessoas envolvidas no nosso desejo. Na escolha está embutido o desejo, porque não tem como ignorar nossos anseios, e seguir essa premissa já é uma escolha – pelo desejo, e não pelo medo que faz recuar.
Mas não é fácil munir-se de coragem e tomar o partido do desejo. É humanamente compreensível que paremos para pensar, projetando em nossas escolhas resultados felizes, adequados aos nossos planos de vida futura. A questão levantada por Távola e que me levou a trazer o tema por ele exposto, foi a síntese que faz dos resultados das relações: arrepender-se ou frustrar-se. Esse “raciocínio” leva embora a beleza do amor, ainda que se relacionar implique em risco de desilusão, quebra da expectativa, decepções e frustrações. Sempre existirá um saldo positivo, as vivências boas desse amor, que nem o tempo nem ninguém apagam, ficam registradas na memória de nossos momentos felizes - eles que sustentam nossas vidas e sustam o sofrimento.
A dificuldade em viver o amor está na forma, nunca no sentir. O amor é perfeito, íntegro e invulnerável. Vulneráveis somos nós, subordinados aos caprichos das nossas escolhas equivocadas. Equívoco é debitar na conta do amor seu fracasso, a frustração do sonho que não se concretizou como esperado.
Ou essa é uma visão romântica dos relacionamentos, uma vez que mesmo sabendo dos dissabores que pode causar, nos apaixonamos, ainda que seja um enigma o que vai ser vivido através desse amor? A própria vida tem esse mistério daquilo que não se encontra pronto, acabado, nem está previamente determinado. Ou seria outro pensamento carregado de romantismo, que esqueceu da lógica para existir?
Autoria creditada a Luiz Fernando Veríssimo e reivindicada por François de Bitencourt, que afirma ser seu o texto, cujo título original também foi alterado de "Uma reflexão sobre a vida e o amor" para “A felicidade pode demorar”
O AMOR E A VIDA ou UMA REFLEXÃO SOBRE O AMOR E A VIDA
Às vezes as pessoas que amamos nos magoam, e nada podemos fazer senão continuar nossa jornada com nosso coração machucado.
Às vezes nos falta esperança.
Às vezes o amor nos machuca profundamente, e vamos nos recuperando muito lentamente dessa ferida dolorosa.
Às vezes perdemos nossa fé, então descobrimos que precisamos acreditar, tanto quanto precisamos respirar... é nossa razão de existir.
Às vezes estamos sem rumo, mas alguém entra em nossa vida, e se torna o nosso destino.
Às vezes estamos no meio de centenas de pessoas, e a solidão aperta nosso coração pela falta de uma única pessoa.
Às vezes a dor nos faz chorar, nos faz sofrer, nos faz querer parar de viver, até que algo toque nosso coração, algo simples como a beleza de um por do sol, a magnitude de uma noite estrelada, a simplicidade de uma brisa batendo em nosso rosto, é a força da natureza nos chamando para a vida.
Você descobre que as pessoas que pareciam ser sinceras e receberam sua confiança, te traíram sem qualquer piedade.
Você entende que o que para você era amizade, para outros era apenas conveniência, oportunismo.
Você descobre que “algumas” pessoas nunca disseram “eu te amo”, e por isso nunca fizeram amor, apenas ”transaram “...descobre também que outras disseram "eu te amo” uma única vez e agora temem dizer novamente, e com razão, mas se o seu sentimento for sincero poderá ajudá-los a reconstruir um coração quebrado.
Assim, ao conhecer alguém, preste atenção no caminho que essa pessoa percorreu, são fatores importantes...
Não deixe de acreditar no amor, mas certifique-se de estar entregando seu coração para alguém que dê valor aos mesmos sentimentos que você dá, manifeste suas idéias e planos para saber se vocês combinam, e certifique-se de que quando estão juntos, aquele abraço vale mais que qualquer palavra...
Esteja aberto a algumas alterações, mas jamais abra mão de tudo, pois se essa pessoa te deixar, então nada irá restar.
Aproveite sua família que é uma grande felicidade, quando menos esperamos iniciam-se períodos difíceis em nossas vidas.
Tenha sempre em mente que às vezes tentar salvar um relacionamento, manter um grande amor, pode ter um preço muito alto se esse sentimento não for recíproco, pois em algum outro momento essa pessoa irá te deixar e seu sofrimento será ainda mais intenso do que teria sido no passado.
Pode ser difícil fazer algumas escolhas, mas muitas vezes isso é necessário, existe uma diferença muito grande entre conhecer o caminho e percorrê-lo.
Não procure querer conhecer seu futuro antes da hora, nem exagere em seu sofrimento, esperar é dar uma chance à vida para que ela coloque a pessoa certa em seu caminho.
“A tristeza pode ser intensa, mas jamais será eterna”.
“A felicidade pode demorar a chegar, mas o importante é que ela venha para ficar e não esteja apenas de passagem...”
François de Bitencourt
BATE PAPO
O amor pode demorar a chegar ou a ser reconhecido?
O autor discorre sobre mais de uma forma de amor, pois se refere à amizade, à família, evidenciando nas ponderações que faz a justaposição desses quereres, uma vez que todos os nossos afetos são intrínsecos às nossas vidas, inseparáveis de nós. Co-existem porque nos estruturam completamente. Somos o todo composto por essas partes que nos compõe. E é preciso que as reconheçamos, aceitemos e reverenciemos, a todas, sem distinção. Assim preservamos nossa essência. Mantemos nossa integralidade.
Mas o tema central da reflexão foca no aspecto amoroso entre os enamorados, que podem eventualmente, perderem-se um do outro no caminho, romperem a ligação ou, tão comum, não haver a suficiente habilidade para lidar com os conflitos e superar as diferenças, fazer as necessárias adaptações. Os “ajustes” levam tempo para se formatar de um jeito satisfatório para o casal, todavia, quando o ceder acontece de ambas as partes, o desejo comum de construir uma relação sólida vence. Em nome do amor podemos lutar bravamente, e por esse mesmo amor, investirmo-nos do cansaço que não permite a continuidade de uma relação dolorosa. O amor é bonito, não deveria ferir, mas fere. Não deveria duvidar, mas duvida. E não deveria sucumbir, mas sucumbe....e de joelhos, implora a solução que não vem. Seria por que não existe ou porque a inabilidade somada ao cansaço se impõe e ganha corpo, fortalecida e usurpadora?
O ponto que chama atenção é que o autor demonstra positividade ao debater as possibilidades do sofrimento como temporário, vendo com esperança a entrada de oportunidades no cenário vida que habitam esses seres. Todos passíveis de enganos, de medos imobilizadores e desfechos tristonhos. Mas de lições inesquecíveis e de recomeços. Embora a saudade nos acompanhe e não permita o esquecimento dos inúmeros momentos preciosos vividos. Esses, nos pertencem, preenchem e conferem existência!
"Durante um seminário para casais, perguntaram a uma das esposas: - 'Seu marido lhe faz feliz? Ele lhe faz feliz de verdade?' Neste momento, o marido levantou seu pescoço, demonstrando total segurança. Ele sabia que a sua esposa diria que sim, pois ela jamais havia reclamado de algo durante o casamento. Todavia, sua esposa respondeu a pergunta com um sonoro 'NÃO', daqueles bem redondos!
- 'Não, o meu marido não me faz feliz'! (Neste momento o marido já procurava a porta de saída mais próxima). 'Meu marido nunca me fez feliz e não me faz feliz! Eu sou feliz'. E continuou: 'O fato de eu ser feliz ou não, não depende dele; e sim de mim. Eu sou a única pessoa da qual depende a minha felicidade. Eu determino ser feliz em cada situação e em cada momento da minha vida, pois se a minha felicidade dependesse de alguma pessoa, coisa ou circunstância sobre a face da Terra, eu estaria com sérios problemas. Tudo o que existe nesta vida muda constantemente: o ser humano, as riquezas, o meu corpo, o clima, o meu chefe, os prazeres, os amigos, minha saúde física e mental. E assim eu poderia citar uma lista interminável. Eu decido ser feliz! Se tenho hoje minha casa vazia ou cheia: sou feliz! Se vou sair acompanhada ou sozinha: sou feliz! Se meu emprego é bem remunerado ou não: eu sou feliz! Sou casada, mas era feliz quando estava solteira. Eu sou feliz por mim mesma. As demais coisas, pessoas, momentos ou situações eu chamo de 'experiências que podem ou não me proporcionar momentos de alegria e tristeza. Quando alguém que eu amo morre eu sou uma pessoa feliz num momento inevitável de tristeza. Aprendo com as experiências passageiras e vivo as que são eternas como amar, perdoar, ajudar, compreender, aceitar, consolar. Há pessoas que dizem: hoje não posso ser feliz porque estou doente, porque não tenho dinheiro, porque faz muito calor, porque alguém me insultou, porque alguém deixou de me amar, porque eu não soube me dar valor, porque meu marido não é como eu esperava, porque meus filhos não me fazem felizes, porque meus amigos não me fazem felizes, porque meu emprego é medíocre e por aí vai. Eu amo meu marido e me sinto amada por ele desde que nos casamos. Amo a vida que tenho, mas não porque minha vida é mais fácil do que a dos outros. É porque eu decidi ser feliz como indivíduo e me responsabilizo por minha felicidade. Quando eu tiro essa obrigação do meu marido e de qualquer outra pessoa, deixo-os livres do peso de me carregar nos ombros. A vida de todos fica muito mais leve. E é dessa forma que consegui um casamento bem sucedido ao longo de tantos anos. Nunca deixe nas mãos de ninguém uma responsabilidade tão grande quanto a de assumir e promover sua felicidade."
Circula sem autoria conhecida
BATE PAPO
Pouca coisa poderia ser acrescida ao que está exposto, penso eu. Talvez inverter o formato com que foram desenvolvidas as considerações, admitindo que nosso padrão mais comum é o de depositar no outro a responsabilidade pela realização das nossas expectativas. Fritz Perls define com precisão essa idéia: "Eu sou eu, você é você. Não estou aqui para satisfazer as suas expectativas, nem você não está aqui para satisfazer as minhas. Eu sou eu e você é você. Se mesmo assim, nós nos encontrarmos, será maravilhoso. Se não, não há nada a fazer". Podemos ter complementaridade nas relações, mas não somos complemento de ninguém. Isso é bastante diferente de algumas crenças que geramos, com a pseudo imagem criada acerca de almas gêmeas, as duas metades de laranja que viram uma. Duas pessoas inteiras se juntas e formam uma unidade chamada casal, não são uma só pessoa, com um só sentimento. É o sentimento de amor que as une, mas cada qual sente e manifesta de seu jeito. Cada amor tem sua particularidade, intensidade, identidade, embora amor seja um só. Por mais contraditório ou paradoxal que possa parecer, há diferença no que afirmamos ser igual. Você não concorda que haja diferenças? E aquela sua amiga que parece sentir um amor doentio pelo companheiro? E a maneira como as mulheres das gerações anteriores eram tratadas pelos seus esposos? Não era amor o que sentiam? E o relacionamento de sua prima que mais parece de amigos? A gente identifica o que sente, e nem sempre parece semelhante, muitas vezes temos a certeza de que amamos mais, de que somos muito mais apaixonadas do que nossas amigas, tias, ou os próprios companheiros. Elegemos “graus” para o amor, e se ele não vem na proporção que damos, pronto! Está aberta a discussão sobre minha expectativa frente ao que espero em retorno, sobre como podemos construir nossas relações baseadas naquilo que esperamos receber para sermos felizes. Resumindo...colocamos nas mãos de outra pessoa a responsabilidade por uma felicidade que é nossa, nos pertence porque nos habita. Ou não?
Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os relacionamentos (namoro, noivado, casamento, etc.) são de dois tipos: existem os relacionamentos do tipo tênis e os relacionamentos do tipo frescobol. Os relacionamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os relacionamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.
Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzche,com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: "Ao pensar sobre a possibilidade do casamento, cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até sua velhice?"
"Tudo o mais nos relacionamentos é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar."
Xerazade sabia disso. Sabia que os relacionamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O Império dos Sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: "Eu te amo..."
Barthes advertia: "Passada a primeira confissão, eu te amo não quer dizer mais nada." É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: "Erótica é a alma".
O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado.
Aqui, ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado.
Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos... A bola: são nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres.
Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...
Martha Medeiros disponibilizou o texto (acima) de Rubem Alves, que rendeu a crônica A Arte de conversar a partir da sentença:
"As relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar".
A gente sabe que o que mais se valoriza numa relação, hoje, é o sexo. De 1 a 10, eu diria que a importância do sexo numa relação é 10, realmente. Porque se não houver a liga, a química, vira amizade. Porém, qual a relação que não é composta de amizade? De 1 a 10, eu diria que a importância da amizade numa relação é 11. Não estou falando sobre namoros circunstanciais, sem compromisso. Estou falando de relação pra valer, com intenção de morar sob o mesmo teto, de construir uma vida em comum. Como é que se faz isso com quem não se tem assunto, com quem o papo não progride, com quem não contribui com nenhum pensamento novo, com quem não rebate suas bolas?
Quando a gente encontra uma pessoa com quem a conversa flui, parece que deixamos de ser estrangeiros no nosso próprio planeta. Conversa boa é um aconchego, um conforto, é como chegar em casa depois de um dia cansativo. Eu acabei de ler um livro muito bacana, A elegância do ouriço, da francesa Muriel Barbery, e de certa forma ela faz um "elogio à conversa", porque as duas narradoras do livro, por mais que habitem mundos distintos, se fundem quando trocam idéias, passam à categoria de "irmãs", mesmo uma sendo uma zeladora de 54 anos e a outra uma menininha rica de 12. É mágico o que a afinidade intelectual e emocional pode fazer por duas pessoas. E quando isso se dá entre um homem e uma mulher em vias de se apaixonar, aí é o nirvana, o éden, o paraíso na terra. Sexo bom e conversa boa: a fórmula dos amores indestrutíveis.
Martha Medeiros
BATE PAPO
A escritora e jornalista gaúcha tem um poder de síntese invejável, e uma clareza que auxilia a prender a atenção no ponto essencial, sem divagações que impeçam a gente de concluir alguma coisa do que lê, porque provoca reflexão, às vezes, uma revolução interna. E agora que já fiz minha tietagem – ela tem um jeito de falar pela gente, não tem?? – vamos semear mais algumas questões na tentativa de consolidar a idéia de que este espaço é nosso e permite um “bate papo” sobre as temáticas trazidas pormim, ou daquelas sugeridas por vocês.
Em uma “roda de conversa” noite dessas, algumas mulheres – casadas, namorando, solteiras ou sozinhas – suscitaram a importância para uma relação, de que o casal tenha interesses em setores da vida do outro e afinidade intelectual, pois “mais tarde” é o que farão com freqüência: trocar idéias, e essa expressão por si só define o raciocínio do grupo, uma vez que o diálogo é a expressão verbal da formulação das idéias que ocorrem na mente, e discutir o que pensa, o que sente e o que entende pelos mais diversos assuntos assegura a proximidade do casal, o estreitamento da amizade que sempre serviu de base para a construção e manutenção desse relacionamento. Claro que o amor tem que fazer parte desse cenário, sem ele o relacionamento não sobrevive, mas nós temos amigos que rendem debates estimulantes, mas necessariamente não precisamos “morrer de amores por eles”; logo, o amor nunca é excluído da relação como o cerne fundamental, o que está em pauta aqui é a preservação dessa relação amorosa através também da conversa, infinitas vezes servindo de ação mediadora para a resolução dos conflitos – talvez a comunicação seja o principal elemento das muitas relações afetivas que construímos, tanto podendo ser positivo como negativo, pois quando existe de forma clara, pontual, explicita e de boa vontade, viabiliza a correção de aspectos que incomodam o outro, e, em caso contrario, quando há disfunção na comunicação entre o casal, dificulta a resolução dos problemas, criando um abismo entre eles no que diga respeito a tentativas de mudanças necessárias para o ajuste da relação. Mais do que isso, expressamos sentimentos e pensamentos através da postura, da expressão facial, dos gestos – tensões corporais, rigidez muscular, silêncios prolongados, ausência de sorrisos e demonstrações afetivas que são costumeiras naquela pessoa – como abraços, pequenas delicadezas, cuidados e maneiras individuais de demonstrar afeto. Muitos diálogos surgem da percepção de uma das partes do casal – quando não de ambos – da necessidade de alterar essas situações que geram mais conflitos, nada acrescentam de positivo e afastam o casal.
Mas voltando para o tema original, fica o convite para algumas reflexões – como está a comunicação entre nós? Sobre quais assuntos nunca conversamos e poderíamos conversar? Do ponto de vista “comunicação”, agimos de que maneira nas nossas relações familiares e com os amigos? Expresso meus pensamentos sem censura ou não falo o que penso para evitar polêmica? Desde o início da nossa relação, construímos a prática saudável da conversa? E se não, o que dá pra fazer que mude isso? E por fim: o que posso fazer, individualmente, para trazer para dentro da relação, o diálogo franco, aberto - a conversa gostosa, amigável?
"Papos de" são espaços que eu criei com a finalidade de promover reflexões de temas que envolvam nossas questões pessoais, cotidianas; propondo "discussões"de assuntos que nos levem a pensar sobre os conflitos, as eventuais dificuldades que temos frente às coisas da vida, sobre as buscas que fazemos enquanto caminhamos rumo ao crescimento emocional, espiritual, individual.
O material de apoio será escolhido por tema, independente de autor, procurando discutir textos que provoquem reflexão, apontem possibilidades, ilustrem e construam pontes para o entendimento, crescimento e aprendizado. Toda sugestão é bem-vinda.
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